Pensar
 duas vezes antes de reagir é um dos ditos mais ditos e escutados ao 
longo da vida – de nós para nós, de nós para vós, de ti para nós, de vós
 para nós. Por muito que escutemos esse dito, vivemos fases em que nos 
congelamos de pensamento, sentimento e do agora e passamos por ela, 
fase, sem lhe darmos a verdadeira apreciação, valorização e gratidão. 
Quiçá, por estarmos a executar sem pensar duas vezes. Se pensássemos 
duas vezes, viveríamos com mais felicidade e também mais angústia. A 
verdade, então, que viveríamos mais intensamente – tanto melhor (para 
felicidade ou agonio).
Inundo-me muitas vezes com o 
arrependimento de ter passado pela escola como um corredor passa pela 
meta – talvez eu até o tenha feito de forma mais veloz, cortando etapas.
 Ainda assim, pensando duas vezes, sou grato pelo que sei, mas agonio-me
 pelo que ficou por aprender ou que ficou meio aprendido, insaciável. 
Não raras vezes o instinto me leva a querer voltar à universidade. 
Pensar duas vezes, especialmente em como é água parada a vida de um 
universitário, leva-me a não pausar a minha carreira ou fazer o esforço 
(irreal) de dupla função – profissional e estudante. A conjugação de 
«inundar» no começo do parágrafo é escolha acertada, pois são muitas as 
vezes (não só duas) que quero regressar às aulas da professora Carla 
Brito, qual cápsula do tempo, e recuperar o que podia ter aprendido mais
 sobre História – especificamente, porque as aulas da professora nunca 
eram só sobre História.
Sabendo que não há como lhe agradecer o 
que fez pelo meu conhecimento, pensamento e consciência, livro sim e 
livro não recordo-me da professora, efeito Pavlov num humano, hipótese 
do marcador somático Damásico, e carrego-a em pensamento, por Portugal, 
Espanha, Finlândia ou onde pairem os aviões que apanho. A gloriosa 
inglória do professor pode ser desconhecidamente saber da marca que pode
 ter no presente e futuro de um aluno – e não sei se o professor bom é 
aquele professor que é tão seguro de si mesmo, que apreciando o 
reconhecimento, não o procura (além daquele educador que tem brio diário
 no que faz). 
Então, pensando duas vezes, aprendi (ainda que 
deambule entre ativação e congelamento) sobre a apreciação e o timing do
 agora, com a presença somática do sentimento danoso que é o remorso 
pela ausência de aproveitamento da partilha de sabedoria. Agora é sempre
 o timing perfeito para agradecer e apreciar o que se tem, o que se 
vive, o que se aprende e o que nos ensinam.
Sobre a professora Carla Brito leiam-lhe o espaço diário Estóriasdahistória
 ou ‘Mais de 150 histórias que te vão deixar de boca aberta… e queixo 
caído!’ ou ‘D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal e outras 
respostas disparatadas nos testes de História’, ambos assinados como 
Isabel Moreira de Brito (professora, consigo recomendar este último 
livro sabendo do risco de ter publicada alguma peripécia minha).
Roberto Rivelino - Apreciação ao timing do 'agora' - 2022/07/06 - Helsínquia 
